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VÁRZEA ENVOLVIDA EM CHEIROS E LAVANDAS



VÁRZEA ENVOLVIDA EM CHEIROS E LAVANDAS
Autor: João Maria Ludugero.

Eu preciso me banhar no açude
Eu preciso mergulhar no Calango
Senão o que faço com teu cheiro
Que não arreda o meu corpo
Que não se desprende do meu espírito
Que ainda está em mim, na rua da pedra
No emaranhado da rua do arame
Na ramas da fazenda Marisa, nos maracujás
Nas poças das águas de chuva represadas nos lajedos
Nos Seixos, nas Vertentes dos Ariscos,
Nas lagoas grandes e compridas da minha saudade...

Saudade que parece esticar o couro da gente
Na rua do curtume, num varal na rua da matança,
No sal e na lágrima que encharca a alma da gente
E descamba bueiros abaixo,
Escoando nossas lágrimas Vargem afora
E nesse ínterim, lembro-me de dona Zidora a bater
Sua trouxa de roupa nas cacimbas do rio,
A estender lençóis brancos no quaradouro
Ali nas areias brancas do rio Joca.

E a saudade não quer sair, prevalece,
E a lágrima insiste em rolar no meu rosto
E eu não estou disposto a ficar quieto,
Eu gosto de remexer nos cheiros e ruídos de outrora.

Daí me pego a indagar, o pensamento voa
Eu me vejo a ruminar, a querer dar sentido ao que me atordoa,
O que é que faço com teus beijos, menina nativa, me diga,
Se teus lábios ainda permanecem nos meus, colados.
Na minha boca ressecada, a brisa passa sem pressa,
E eu não disfarço, ainda preciso sentir o gosto do céu, na tua boca...

E aquela trança nos teus cabelos, como esquecê-la, de pronto
Se teu cheiro de alfazema, de lavanda ainda sonda meu corpo,
Como uma onda que vai e vem, assim pressinto teu rosto a sorrir,
E uma fita de cetim a prender teus fios, teu cabelo dourado.

Tudo isso me marca, num açude de lembranças saudáveis
E estimulantes, num banho de aromas e essências
Que só existem na minha pequena Várzea das Acácias...

Oh, menina varzeana, o que é que faço sem teus olhos
Pequenos e brilhantes nas tardes fagueiras do Vapor,
O que é que eu faço sem tua boca de carmim,
Deliciosamente encarnada, morna, nunca insossa,
Céu da morada da minha língua, que se perdeu na mudez
De outras bocas que não me levaram a nada?

A gente aprendia a sonhar junto, e tanto acreditava.
Tecia a alegria e a bondade, sem medo de ser feliz.
E agora o que é que eu faço com esta solidão tão antiga
Que me persegue e me deixa tão indefeso,
Toda tarde quando o sol se vai?

Queria cessar esse pranto agora!
Desatar esta dor para ela ir embora, de vez.
Sabe, eu só te queria pra sempre, menina nativa,
Pra gente, quando velhinho, brincar nem que fosse
de contar histórias de vidas bem vividas, verídicas,
pra um magote de meninos e meninas,
Quiçá nossos netinhos varzeanos?
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Beto Bello

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