Autor: João Ludugero.
É gratificante andar à toa
Pelas ruas da minha Várzea.
É bom sonhar com a lua, acordado
Para que a realidade não venha atrapalhar
É bom andar na chuva,
É bom poder se molhar
Ao atravessar o rio Joca, a nado,
Para que o sal da água salobra
Possa não adocicar a lágrima da saudade,
Mas amenizar o soro que insiste
Em se debulhar no rosto da gente.
É bom perambular pelas ruas simples,
É bom conversar com sua gente simples
É bom observar o seu casario, suas travessas
É bom cruzar as quatro bocas, suas ruas novas
É bom andar pelos inúmeros becos de antigamente,
Para saber que minha morada
É nenhum outro lugar
Que não seja ali na seara de Ângelo Bezerra.
É bom estar em tua companhia, minha Várzea,
Para saber onde meu pranto levar, a que ombro,
Em que lenço devo me enxugar, sem receio,
Toda vez que eu me sinta sozinho.
Não é nada fácil compreender a vida,
Quando dela não se tem esperanças novas.
É fácil programar partida, ainda cedo, eu digo,
Quando a alma está despedaçada, por um fio.
Eu estou aqui de pires na mão, me acho,
Feito gato que mia, de barriga cheia,
Sei que é fácil não querer comida
Quando a fome já foi saciada, acredito,
Sei que é fácil achar a saída, de fato,
Quando a porta não está tramelada.
Todo mundo aspira a um amor de verdade,
Mas muitos preferem se acomodar na mentira.
É certo morrer de saudade, o que de fato acontece,
Mas o obscuro está em se atirar longe da mira.
Meu coração-alvo ainda não cicatrizado,
Anda pelo jardim, passeia pelo bosque da tarde amena,
De tantas lembranças, de tantas folhas caídas
Das folhas mortas do último outono varzeano,
Adubando o solo para outros sobreviventes.
Hoje nada mais sou,
Declaro em alto e bom tom,
Senão um mero guardião da saudade.
Menina varzeana, menina do rio Joca,
Eu que só queria a tua coragem,
Aquela aflorada em teus poros,
E o manso carinho das horas,
O que hoje me faz falta.
E agora, doutor, como fica
a minha situação, o que isso significa?
Agora segue os meus respeitos,
Dos mais sinceros, me resigno,
Já não sei se te espero, quieto,
Talvez até canso em um canto...
Mas o teu encanto, este,
Certamente, também vai passar!
Se é que ainda não passou, haja vista
Que acabo de ver um fantasma
Que acabou de passar por mim
Ali na beira do rio da Cruz...
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